Horta Urbana na Cidade de São Paulo. Uma experiência de transformação social.

Nas minhas andanças sustentáveis procurando conhecer e propagar lugares que estão fazendo a diferença, muitas vezes fico cautelosa no que irei indicar, afinal, nem sempre o lugar faz tudo o que fala. Mas algumas vezes temos aquelas oportunidades mágicas, onde acontece algo muito melhor do que você poderia imaginar, e isto aconteceu comigo na Praça Victor Civita.

Foi em um evento sobre sustentabilidade, onde uma das atrações era um trabalho feito na horta da praça, um espaço imenso e cheio de terra para ser fertilizada, plantada, colhida e dividida entre os moradores, visitantes e animaizinhos que ali se alimentam. Fiquei encantada com a possibilidade de em pleno bairro Pinheiros – SP ter uma horta urbana deste tamanho, com um plus de ser em um parque com uma história de revitalização, cuidado e ressignificado.

A agricultura urbana é fundamental para os dias atuais, já que facilita muito o acesso à alimentação, traz  benefícios para a atmosfera da cidade, evita emissão de gás carbônico, traz vida ao redor através do verde e dos animais que atraí, e melhor de tudo, aproxima pessoas que geralmente vivem separadas por paredes de casa, do carro, ou dos bloqueios mentais que a cidade traz.

Meu encanto me fez querer investigar e ir atrás dos responsáveis por aquele trabalho, e através do Pé de Feijão (projeto que leva alimentação consciente e sustentável por onde vai) que consegui o contato de uma das voluntárias da horta da Praça Victor Civita. Marquei um encontro com a Herta, que foi super atenciosa em todas as mensagens, e chegando lá haviam mais dois voluntários, o Léo e o Mathias.

Nesta conversa eles me contaram que os grandes responsáveis por este movimento na praça, na verdade eram dois professores de ioga e pilates, o Marcelo e a Mary, que já estavam ativos no parque há 4 anos, dando aula gratuitamente ou com uma contribuição voluntária todos os dias pela manhã.

Antigamente a praça era cuidada pela Abril, mas hoje ela é pública, e isto fez com que ela ficasse descuidada. Quase que inexistente para a prefeitura, ela depende de os frequentadores implorarem para alguém limpar, mas enquanto isto não acontece, eles mesmos tiram os lixos e dão uma organizada no local.

Foram nas aulas de ioga do instrutor Marcelo que o mesmo descobriu o gosto da Herta e do Mathias pelas plantas, e foi em uma conversa com o Léo sobre como ele gostaria de arrumar a estrutura de madeira do local que o instrutor de ioga fez o papel de cupido e uniu este grupo que hoje conta com 5 pessoas fixas, 11 que vão esporadicamente, e outros mais que se juntam quando há algum tipo de mutirão.

O que mais gostei de saber sobre a horta urbana do parque não foi apenas os aspectos ambientais, mas sim a força coletiva que um projeto deste tem e que eu não fazia ideia de como as trocas iam muito além do plantar (ok, era de se imaginar, já que eu tenho aprendido que onde há permacultura, há Vida com V maiúsculo e ultrapassa qualquer aspecto apenas físico).

Os 3 voluntários me contaram como aquele momento era terapêutico e de aprendizado. A Herta começou a estudar mais sobre permacultura, o Léo que prefere marcenaria está quebrando os paradigmas e pegando mais intimidade com as plantas, e o Mathias usa este tempo para estar próximo a algo que lhe dá prazer. Eles também me disseram que com este trabalho estão conhecendo outros grupos com hortas urbanas na cidade de São Paulo, e tem sido uma troca rica de sementes, conhecimento e dicas sobre plantação orgânica.

A agricultura urbana acaba atingindo outros resultados que é difícil de imaginar, mas que parece lógico quando você incentiva que a comunidade participe do que lhe é de direito. Uma professora de geografia de um colégio público que conhecia a antiga horta (na época da Abril) resolveu levar seus alunos para conhecer o espaço, mas ao chegar lá se deparou com um lugar longe do potencial que um dia já atingira, já que agora não tem mais nenhum incentivo ou patrocínio, e ao entender a história e conhecer os voluntários, esta professora propôs aos alunos que ajudassem, criou grupos, e agora os leva para aprender na prática. Um ganho enorme para estes jovens em relação à educação acadêmica, educação como cidadão e a interação saudável com o meio ambiente.

Hoje a praça está ganhando uma nova horta, e ganhou até mesmo um coletivo, o Coletivo Praça Vita, que se organiza para juntar voluntários, trocar experiências, e conseguir doações e parcerias para restaurar a praça.

Estar junto do coletivo foi uma lição de cidadania e coletividade, e me deixou muito animada para participar de grupos como este, sabendo que quanto mais unidos estivermos, mais longe podemos ir.

Fico pensando, se cada um de nós nos propusermos a pelo menos um dia na semana não ficarmos em casa, mas sim ir para nossas praças, parques, e nos unirmos, quanta vida, oportunidades e amizades podem surgir? Já é muito bem comprovado que o contato físico com pessoas e com plantas fazem um bem danado à saúde, é só ir e aproveitar.

Para entrar em contato e fazer parte do voluntariado veja a página do Coletivo Praça Vita no Facebook.

Para fazer sua doação existe um site onde eles estão fazendo uma vaquinha.

Caso a Praça Victor Civita fique longe para você, se informe na sua região, se há alguma praça que está bem cuidada e com horta, é muito provável que ela seja neste formato de coletivo dos cidadãos.


Sobre a Praça Victor Civita

Esta praça, que está muito mais para um parque pelo seu tamanho e estrutura, fica localizada próxima à estação Pinheiro, apenas 5 minutos de caminhada.

A praça é um patrimônio para a sustentabilidade urbana, com uma arquitetura incrível, ela passou por uma série de transformações para se transformar em um parque depois de ter sido uma incineradora de lixo. O projeto inteligente ganhou grandes prêmios de sustentabilidade.

Interior do Prédi
Interior do Prédio

Vale o passeio para sair dos parques tradicionais da cidade, curtir um lugar com bastante verde, com uma arquitetura única e um gigante e incrível deck de madeira, horta e aulas de ioga e pilates todos os dias, inclusive de domingo.

Como o parque anda um pouco abandonado pela prefeitura, este não é exatamente um passeio que incluí no roteiro de São Paulo para turistas, mas trago aqui para vocês o convite para estar lá, participar das atividades e eventos que acontecem no local, especialmente se você é da cidade, e quem sabe assim conseguirmos chamar atenção e colocarmos a Praça Victor Civita no mapa novamente.

Horário de funcionamento – todos os dias das 6h30m às 19h

Localização – R. Sumidouro, 580 – Pinheiros, São Paulo – SP

2 comments

  1. Show!! Muito boa essa movimentação e interação de todos. Se cuidarmos do nosso bairro, nossa cidade, nosso estado, país e assim vai…aí sim, vamos longe!

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Renata G. Ferreira
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Por um Recomeço

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