Dólmen da Oração: uma reza aos antepassados, Florianópolis.

Essa experiência aconteceu em 27/04/2022

Essa história vem fresquinha, de uma experiência que mudou a minha vida nesta tarde. “Mas como assim, aconteceu agora e já mudou sua vida?” Olha, acho que só sabemos mesmo quando uma experiência mudou a nossa vida depois que tivemos tempo de processá-la. Só que hoje eu senti, em cada célula, que eu não sei o que foi, mas algo mudou.

Estou em Florianópolis. Nada aqui me chamava muita atenção antes. Eu nunca gostei muito de destinos que todo mundo ama! Não que eu seja muito alternativa, mas não sei, gosto do banal. Até que no final do ano de 2021 começou a acender uma luz em mim “Vai para Floripa”.

Agora faz quase um mês que estou na ilha. Já peço imensas desculpas pela minha prepotência de achar que esse amor quase que unânime era só um delírio coletivo. Eita lugar maravilhoso! Aqui tem um quê. Essa coisa de Ilha da Magia é real e hoje ela mostrou mais um dos seus encantos.

Estou hospedada na Barra da Lagoa, que dá acesso a trilha da Boa Vista. Nela há um caminho para o Dólmen da Oração, que me indicaram fortemente. Passei de raspão pelo monumento diversas vezes sem visitá-lo, e agora, minha última semana de viagem, a porta se abriu para mim.

Dólmen: dol = mesa e men = pedra. Monumento megálitico com objetivos religiosos, ritualísticos ou fúnebres.

Trilha da Boa Vista em Floripa. Por ela você pode ir até o Dólmen da Oração ou seguir para Galhetas.

A Trilha do Dólmen da Oração em Florianópolis

A trilha começa no IMMA (Instituto Multidisciplinar do Meio Ambiente e Arqueoastronomia), onde fui recebida pelo pesquisador Adnir, que mostra já estar mais do que acostumado em contar sua história diversas vezes, sem deixar a paixão e o encanto de lado:

O ano era 1986, Adnir Antonio Ramos, um rapaz de 26 anos, tirou a carta para dirigir barco, pois, tinha o sonho de viajar pelo mundo de navio. Ele era pescador e foi levar uns amigos para a pesca, mas o mar estava agitado e eles voltaram para terra firme. O Sol que nascia se enquadrava perfeitamente entre duas pedras que pareciam ter sido colocadas no ponto exato! “Isso não pode ser só uma coincidência” – ele pensou.

Depois desse dia, Adnir se comprometeu a estudar o que era esse monumento. Como não haviam respostas nos livros, o jeito foi ele mesmo escrever a história. Prestou vestibular e não passou, com o dinheiro da pesca fez cursinho pré-vestibular até conseguir entrar no curso de biblioteconomia. 

Levado especialmente pela sua intuição, que surgia em pensamentos relâmpagos, sonhos ou pessoas que aparecem no último minuto do dia, o pescador foi, pouco a pouco, desvendando os mistérios dos Sambaquis (povos que habitavam o litoral e chegaram em Florianópolis a mais de 6.000 anos).

Essas pedras que enquadravam o Sol, ele descobriu, faziam parte de uma calendário maior que marcava os Solstícios e Equinócios. O conjunto completo que compõem esse antigo monumento foram se desvelando para ele, uma pedra de cada vez. 

Adnir Antonio Ramos em uma das pedras de observação que ficam na parte de baixo da montanha.

Se você não acredita que nascemos destinados para algo maior, talvez achará que é um mero acaso que essas pedras estivessem quase todas localizadas dentro do quintal da casa dele, onde brincou, descansou e trabalhou da infância até a sua vida adulta. Será coincidência?

Dentro de uma salinha de palestras o pesquisador foi contando como seus estudos revelaram que as imagens rupestres tinham uma semelhança admirável com a estrutura do DNA. Cálculos e pesquisas foram feitas para entender como os números de linhas nos desenhos em pedra representavam nossas estruturas celulares.

Artes rupestres dos Sambaquis, fazem parte dos estudos e da palestra de Adnir

Ali ele falou sobre essa estrutura universal que permeia todos os tipos de vida, abordando teorias que nos fazem refletir, como a crença de que existiram muitos Big Bangs e, que na verdade, cada gestação de um novo ser é essa explosão que pode ou não resultar em uma nova Vida.

Conforme ele falava uma emoção inexplicável explodia dentro de mim, dizendo “É por isso que você viaja, é sobre isso que você deve contar”. É como se eu já tivesse ouvido essa história muitas outras vezes, ao mesmo tempo que um mistério se revelava com graça, me provocando por ainda entender tão pouco sobre a existência humana.

Daquela salinha até a subida ao alto da montanha, com uma vista de azul infinito, daquelas que você não sabe onde começa o mar e o onde termina o céu, onde os pássaros voavam usando com sabedoria o vento e, o calendário de milhares de anos atrás, se mostrava firme apesar dos anos, pude sentir a Grande Magia.

O Dólmen da Oração onde temos a vista da Praia do Mole e Praia da Galhetas

Como se não bastasse tamanha grandeza, ainda descobri essas pedras se alinham com outros importantes monumentos como Machu Picchu, formando uma grande teia de pontos energéticos da Terra, e com as constelações de Orion e Pleiades, cultuadas também em outras culturas ancestrais. 

Estar ali em cima foi só o toque final, a comprovação de que todo aquele sentimento que tive ao ouvir a história do Adnir e dos Sambaquis, era tão verdadeiro quanto a beleza que eu via no alto da montanha.

A grandeza daquela natureza me fez sentir tão pequena que pareceu pegar meu Ego no colo e dissolvê-lo gentilmente, me dando a certeza de que existe algo maior do que a minha existência. Meus problemas e conflitos são levados. No lugar uma Fé profunda brota. Eu agradeço aos antepassados e faço uma reza pelo lembrete gravado em pedras de que esse mundo é mágico e é Sagrado.

Como visitar o Dólmen da Oração em Florianópolis

Você pode fazer a visita autoguiada no valor de R$15,00 ou receber a guiança do Adnir com valor sugerido de R$50,00 (esse valor pode ser negociado caso seja para grupo ou alguma excessão).

Eu recomendo fortemente fazer a visita com o professor Adnir. Além da explicação histórica e da sua linda história, ele também mostra direitinho os pontos importantes do calendário e de quebra dá uma super aula sobre a mata da área.

Além da visita você pode conhecer a história do Adnir através do livro Divino Gênese: As descobertas do pescador. Vendido pelo próprio IMMA.

Localização: O Dólmen da Oração fica na Fortaleza da Barra, no caminho entre a Lagoa da Conceição e a Barra da Lagoa.

Rua Laurindo José de Souza, 188, CEP 88061-400 – Fortaleza da Barra da Lagoa Florianópolis – Santa Catarina – Brasil

Como chegar: Você pode ir de carro ou pegar o ônibus 360 que sai da Lagoa da Conceição em direção à Barra da Lagoa.

Outra forma de chegar é pela trilha da Boa Vista que sai da Barra da Lagoa, mas aí você chegará diretamente nas pedras e não terá total acesso à trilha e nem ao Adnir.

Saiba mais: arqueoastronomia.com.br

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Renata G. Ferreira
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Por um Recomeço

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