No último dia 09 de fevereiro, participei de um mutirão na Vila das Borboletas, projeto sustentável que tem como uma das premissas a Permacultura, um movimento iniciado na década de 70 por Bill Mollison e David Holmgren, cujo nome nasce do termo “Permanent Agriculture” (Agricultura Permanente).
Hoje a Permacultura passeia desde uma metodologia até uma filosofia de vida, e tem como base 3 acordos éticos:
- Cuidar da Terra;
- Cuidar das pessoas;
- Cuidar do Futuro.
Por trazer uma visão ampla de vivência harmônica com o meio ambiente e com nós mesmos, um movimento que deveria servir de base para agricultores e construtores, tem ganhado cada vez mais espaço na vida das pessoas em geral.
Para continuarmos nesta história e entendermos como a permacultura pode mudar a sua vida, vamos falar um pouco mais sobre o conceito. A metodologia da agricultura permanente parte do princípio de que devemos trabalhar junto com o meio ambiente de maneira sustentável, de uma forma onde tudo feche em um ciclo saudável para qualquer forma de vida.
Esta metodologia ou filosofia, faz com que quem a pratique pare constantemente para analisar os impactos da sua forma de viver, aliando muito bem técnicas ancestrais de menor impacto, com o aperfeiçoamento das mesmas e se necessário a inclusão de tecnologias, onde há uma compreensão macro sobre as coisas, por exemplo, em uma plantação:
- será utilizado um solo com declive necessário para melhor irrigação, e a água será ao máximo captada pela chuva ou por alguma nascente do terreno;
- o solo será alimentado com nutrientes naturais e os bichinhos serão expulsos por uma combinação de plantas, como a pimenta (Observação importante: hoje já se sabe que muitos desses bichinhos e pragas aparecem por que a monocultura faz com que o solo não seja saudável, então, se há diversidade de plantas o risco de pragas é muito menor);
- este alimento que, já gerou pouco impacto para ser plantado e irrigado, e está livre de agrotóxicos, será colhido e consumido com todas as “imperfeições” que nas plantações comuns seria descartado;
- o que realmente não pode ser aproveitado, irá para compostagem, processo que transforma o alimento em adubo e servirá de nutriente para a próxima plantação.
Este é um exemplo simplista, mas mostra como na permacultura pensamos de uma maneira circular.
O objetivo do Por Um Recomeço não é trazer dados muito técnicos, mas sim te falar sobre experiências que podem transformar seu modo de se conectar com o mundo. Por isso indico o site da UFSC e do Ipoema para informações mais profundas, e ainda assim muito simples de entender.
Desde que comecei a entrar em contato com o conceito, minha visão sobre sustentabilidade e modo de viver ampliou de uma maneira que eu jamais poderia imaginar, por dois grandes motivos, o primeiro é que a permacultura vem resgatando e criando técnicas altamente sustentáveis e com capacidade produtiva (coisa que geralmente não é possível na crença popular sobre sustentabilidade), e o segundo é que ela me trouxe um entendimento maior sobre o impacto de cada ação minha, não só para o meio ambiente, mas também para o meu próprio corpo físico e mental.
É incrível o empoderamento que senti a partir do momento que entendi que poderia viver de uma maneira mais confortável, saudável e integrada, pelo simples fato de reconhecer que eu faço parte da Natureza e que todo movimento que faço para fora tem grande impacto para dentro. E este sentimento é tão verdadeiro que o número de pessoas que estão se conectando à permacultura está cada vez maior, indo além daqueles que trabalham com sustentabilidade e alcançando pessoas de todas as idades e vivências possíveis, que estão mudando as suas vidas em busca de harmonia.
Um ótimo exemplo disso foi este mutirão que participei na Vila das Borboletas. O evento tinha como objetivo o início da bioconstrução de dois chalés de hiperadobe (técnica de construção de barro, onde a terra é ensacada em sacos de polipropileno no tamanho desejado para a construção) e aconteceu durante um final de semana.
Lá encontrei pessoas que vieram de outras cidades e com objetivos diferentes, como aplicar a técnica para aumentar o seu leque no trabalho, para aprender e fazer uma mudança de carreira, para conseguir construir a sua casa com suas próprias mãos, para fazer parte da construção de um lugar que acredita, ou apenas para participar de um evento de sustentabilidade.
O movimento gerado foi tão interessante que em pouco tempo e com pouca divulgação, cerca de 40 voluntários (30 para acampar) apareceram dispostos a ajudar com seu trabalho, com comida, e com muita energia boa.
Foi um final de semana intenso, de muito sol e trabalho, mas a sinergia era tão interessante e o objetivo de um mundo melhor era tão forte, que era nítida a alegria das pessoas, que na sua grande maioria nem se conheciam, mas tiraram um final de semana para ajudar em um projeto e puderam aprender como multiplicar o conhecimento em sua jornada.
A mistura de adultos, jovens e crianças que trabalhavam, trocavam ideias construtivas, se ajudavam e se divertiam, me fez reforçar ainda mais a ideia que a permacultura trouxe já no meu primeiro contato, “é possível viver de uma maneira mais leve e harmônica”.
Sou grata por ter compartilhado estes dias com pessoas dispostas a doar e a receber, grata à Vila das Borboletas por proporcionar esta vivência e grata por ter entrado em contato com uma metodologia/filosofia que mostra que a sustentabilidade não é algo radical e de fora para dentro, mas é algo natural que acontece de dentro para fora.
Para participar de movimentos como estes existem 3 caminhos fáceis:
- Procurar eventos de permacultura no Facebook.
- Procurar grupos de permacultura ou agrofloresta no Facebook, lá é sempre divulgado eventos como estes.
- Fazer work exchange em lugares ecológicos, ou seja, viajar e se hospedar em troca de trabalho. Eu falei um pouco mais sobre este tipo de viagem neste post.
Você ainda pode acessar a página da Vila das Borboletas pelo Facebook ou pelo Instagram para ficar de olho nos próximos mutirões.
Claro, além do trabalho, os momentos de lazer foram compensadores, como tomar banho no rio, comer, tocar violão e conversar na fogueira até altas horas e admirar as estrelas do céu maravilhoso que fez no final de semana, tudo com a grande oportunidade de conhecer pessoas incríveis com histórias tão diversas e com objetivos comuns que nos fortalecem.
Experimente!
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