Como é uma agrofloresta. Alimento orgânico em Paraty

Você já ouviu falar sobre agrofloresta ou sistema agroflorestal, mas fica sempre na teoria dos livros? Como é uma agrofloresta, para que ela serve? Venha comigo conhecer o Sítio das Borboletas em Paraty, que cultiva alimentos orgânicos através de um sistema agroflorestal imenso e antigo onde apenas os olhos treinados conseguem distinguir o que é mata e o que é alimento.

O que é alimento orgânico e o sistema agroflorestal

Alimento orgânico é aquele cultivado sem o uso de agrotóxicos, ou seja, para acabar com as pragas que se espalham na plantação, os agricultores utilizam compostos naturais ou alguns truques, como usar temperos e pimenta para espantar os bichinhos indesejáveis.

Já imaginou se você comesse apenas arroz em toda sua vida? Ele sozinho é um alimento bom, mas você precisa de outros nutrientes para ter saúde.

Agrofloresta é um sistema onde o cultivo é feito dentro de uma floresta, ou em um campo onde é plantado cultivos diferentes com o objetivo de trazer diversos nutrientes para a terra. A lógica é observar como a diversidade da natureza trás riqueza ao solo e conseguir reproduzir isto em uma plantação que não seja de monocultura, fazendo com que o alimento seja mais forte e não precise de agrotóxicos para combater pragas.

A vantagem de se fazer uma agrofloresta é que além de não precisarmos usar agrotóxicos, preservando a saúde da terra, do agricultor e do consumidor, ela tem uma boa produção a longo prazo e, ainda ajuda a capturar o CO² presente no ar que está prejudicando nossa camada de ozônio, isso acontece por que as árvores plantadas são recipientes que armazenam este gás deixando o ar ao redor mais limpo.

Os sistemas aglorestais podem ser usados também para a recuperação do solo em regiões secas e com solo degradado, com o consórcio de plantas que é feito e a cobertura correta do solo, naturalmente ele vai se recuperando com os diferentes nutrientes disponíveis, consegue reter mais água diminuindo ou anulando a necessidade de rega, fortificando não apenas onde está plantando, mas também o sistema ao redor.

S. Eraldo e o Sítio das Borboletas

S. Eraldo com seu carisma rotineiro.

Conheci o S. Eraldo em um mutirão que acontece de tempos em tempos em seu sítio, ele e outros agricultores da região formam um grupo de apoio para as tarefas mais pesadas e, dando também a oportunidade para pessoas curiosas como eu aprenderem um pouco mais sobre o dia a dia de uma agrofloresta.

Um dia entre agrofloresteiros

Chegamos pela manhã em sua casa onde fomos recebidos com as melhores mandiocas e inhames cozidos que já comi, além de café, pão e fruta, em um ambiente amigável e feliz, um encontro de amigos. Nos preparamos com botas, luvas e ferramentas, partindo em direção a um terreno que estava a muitos anos sem intervenção humana.

Café da manhã antes da mutirão

Este terreno tem uma história tocante familiar. Um dia já havia sido do pai do S. Eraldo, mas por circunstâncias da vida foi perdido, naquele mutirão tivemos o privilégio de entrar neste espaço e nessa história, e começar a recuperar não apenas um legado familiar, mas também o alimento que a terra nos dá.

Existem algumas maneiras de fazer uma agrofloresta, eu já presenciei as que são feitas em terrenos que já foram desmatados e sofreram agressão da monocultura, nestes a plantação é iniciada com vegetações que irão primeiro restaurar o local para depois serem colocadas mais variedades de plantas.

A segunda maneira que conheci foi justamente com o S. Eraldo, onde há um espaço já florestado e é feito o manejo da área, ou seja, com muito cuidado e atenção escolhemos as árvores e plantas que podem sair ou serem podadas para dar espaço e luz para novas espécies chegarem. A escolha do que será podado geralmente é feito pela disponibilidade da árvore, se é uma espécie rara ou muito antiga, é mantida no local.

Bom papo entre uma enxadada e outra

Entre muitas pessoas maravilhosas, tive o prazer de conhecer uma das famílias que estão à frente do Ervário Caiçara em Ubatuba, projeto incrível que resgata os conhecimentos tradicionais da região sobre as ervas.

Foi um dia de muito trabalho com enxada, serrote, força braçal, e conversa boa. As árvores podadas ou derrubadas servirão de adubo para a terra recuperar seu equilíbrio, e abrirão espaço para que a luz possa entrar e dar oportunidade para que novas plantas e árvores possam crescer.

Conhecendo uma agrofloresta antiga

Minha segunda visita ao Sítio das Borboletas foi um convite para conhecer um outro terreno onde havia uma agrofloresta antiga, dessa vez eu e um amigo fomos de ônibus, e para chegar lá basta perguntar para os passageiros pelo Eraldo do Mel que alguém te indicará o ponto de descida.

Mais uma vez fomos recebidos por essa figura carismática e sua mulher, que preparou um suco de cambuci delicioso, e pães caseiros para acompanhar o bate papo sobre o COVID-19 que estava começando a se espalhar pelo Brasil, mas naquele momento era apenas um burburinho desconhecido.

Atravessar o rio para chegar na fantástica agrofloresta

Tomamos o suco, comemos o pão, cruzamos a estrada, atravessamos um rio e chegamos em um espaço tomado pelo mato que estava alto e animado com as chuvas e sol de verão. Essas chuvas que trazem abundância, em alguns momentos já causaram sérias inundações na região, S. Eraldo compartilhou um episódio onde animais de pasto foram parar em seu terreno que ficou metros abaixo da água, tanta água que quase chegou no topo de uma grande árvore.

Neste dia tive uma das melhores sensações da minha vida e também o maior cair de ficha. As agroflorestas anteriores que eu havia visitado eram todas feitas a partir de um solo que havia sido degradado, foi a primeira vez que tive contato com uma plantação que realmente acontecia dentro de uma floresta.

Estar ali abriu o meu coração para a diversidade que temos e não conhecemos, a verdadeira abundância que a terra tem.

Lá vimos diversos tipos de frutas, banana, cambucá, cambuci, carambola, jabuticaba, juçara, limão, lichia… vimos também pancs, diferentes palmiteiros e outras plantas que sou incapaz de lembrar. Caminhar com alguém que a cada passo te indica um alimento diferente no meio de tantas plantas, árvores, flores, matos, é ver a abundância em cada metro quadrado da natureza.

A natureza é sagrada e nos dá o necessário! Quando foi que desaprendemos a conhecê-la?

Desbravadores

Fomos embora de lá com um abraço de despedida, essa era minha última semana em Paraty, com a certeza de que continuaremos nossos caminhos de nos reconectar com a natureza.

Conheça também a história do Sítio São José, outra agrofloresta incrível na região de Paraty onde você irá se encantar do início ao fim de sua caminhada até o local.

Onde comprar

O S. Eraldo vende seus produtos orgânicos e agroflorestais em Paraty na Feira da Agricultora Familiar que acontece toda sexta-feira ao lado da rodoviária. Sua barraca fica do lado de dentro do prédio, no último corredor, pergunte sobre o Eraldo do Mel que as pessoas te dirão onde encontrá-lo.

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Renata G. Ferreira
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Por um Recomeço

Por Renata G. Ferreira

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