Sobre grandes mudanças interiores e impactos exteriores.
Meu primeiro anticoncepcional
Eu comecei a tomar anticoncepcional aos 15 anos, como uma grande parte das meninas da minha geração não foi pelo risco de engravidar, mas sim por que fui a umx ginecologista que achou que para regular a minha menstruação eu deveria ser tomar remédio. Hoje sei que poderia ter tido mais paciência e consciência que eu era muito nova e meu ciclo era só meu, não seguia um padrão da Anvisa.
Eu tomei a pílula até os 27 anos, já tinha ouvido muito sobre seus riscos, mas tinha muito medo de engravidar quando namorava, ou de ficar “desregulada”. Mesmo que nos últimos 3 anos eu sentia uma náusea toda vez que pensava em pílula, não valia o risco, apenas pedi para colocar uma opção mais leve.
Tirando o remédio, me conhecendo
Quando comecei a minha grande transformação, me empoderar de quem eu sou, conhecer os impactos do meu consumo dentro e fora do meu corpo, fazer as pazes com o meu feminino, foi que tive coragem de tirar a pílula de uma vez por todas.
No início foi tudo normal, a menstruação ficou um pouco atrapalhada até encontrar um ritmo, mas depois de alguns meses comecei a sentir uma cólica horrível, nada que me levasse para o hospital, mas muito mais forte do que era antes, e logo depois para completar o combo veio as espinhas que ficaram guardadas durante todos esses anos.
Eu sei que eu não sou a pessoa tem que teve a maior quantidade de espinhas, algumas pessoas podem olhar e falar “isso não é nada”, mas todas sabemos quando aquele rosto lisinho do anticoncepcional sai, damos uma surtada.
Junto com a tirada do anticoncepcional vieram várias mudanças, virei ovolacto vegetariana, mudei para produtos naturais (desde os que usava no cabelo, até no restante do corpo), passei a usar menos maquiagem (eu já não usava tanto assim). O fato de estar com espinhas e cólicas me fizeram querer desistir algumas vezes, era totalmente frustrante estar com um estilo de vida mais natural e mesmo assim estar com o rosto tão oleoso, fora a adaptação do cabelo para o shampoo sólido, mas eu lembrava da náusea antiga a cada dose do anticoncepcional, e dos relatos de outras mulheres falando sobre o período de limpeza e adaptação, e resistia.
Estes depoimentos começaram a me fazer reavaliar meu relacionamento com meu corpo, o que eu achava que era o papel de uma mulher, o quanto eu conhecia meus ciclos e a minha alimentação.
Eu fui então criando coragem, deixando de passar maquiagem mesmo com essas espinhas a mostra, por que não queria esconder elas e nem sobrecarregar minha pele, comecei a usar máscaras de argila, óleos essenciais e sabonetes naturais como o de alecrim, mas nada adiantava, comecei a perceber que alguns desses produtos naturais me davam alergia, o de alecrim especialmente.
Mudando de estilo de vida
No final de fevereiro eu mudei para Paraty e dali para março, eu comecei a ver que a minha pele estava melhorando, deu uma secada, mas ainda haviam muitas marcas e, vira e mexe saiam algumas espinhas bem grandes. Eu não sabia mais o que fazer, comia saudável, passava coisas naturais, tomava óleo de prímula, tinha uma vida com exercícios que me faziam suar para limpar as toxinas e etc. Estava melhorando, este já era um bom caminho, mas eu estava começando a aceitar que eu era assim e pronto.
Eu cortei o uso desses óleos e produtos todos os dias, comecei a lavar meu rosto só com água mesmo, e de vez em quando fazia algum esfoliamento com borra de café e, hidratação com fruta, babosa ou argila.
Lá para junho eu consegui tirar praticamente todos os alimentos industrializados de casa, eu passei a fazer compras só no granel e na feira, e comer o máximo possível coisas frescas, abria (e abro) exceção na rua ou na casa de alguém, e aí eu comecei a ver que as coisas realmente começaram a melhorar.
A virada final, livre, finalmente, por enquanto
Em agosto eu participei do voluntariado no Flor das Águas, um espaço vegano que também preza por uma alimentação quase sem óleos industrializados, azeite, canola e etc., usávamos um pouco apenas. Na primeira semana as espinhas surgiram que nem loucas, parece que meu corpo estava expelindo tudo o que estava errado no meu sangue.
Quando saí de lá eu continuei sem consumir nada de origem animal, e aí sim, chegamos como meu rosto está agora. Percebi que o que me inflamava era especialmente o leite, e depois que cortei todos seus derivados as espinhas são praticamente zero, salvo quando eu consumo muitas castanhas ou amendoim, e quando vai descer a menstruação.
Eu não deixei de consumir açúcar ou glúten, que é uma coisa que muitas vezes inflama outras pessoas, mas hoje meu relacionamento com eles mudaram, especialmente o doce que na grande parte das vezes eu faço em casa com açúcar demerara ou mascavo.
Concluindo
Quero trazer para você a reflexão de como anda a sua relação com a natureza, e com seu estilo de vida. Quem me acompanha no Instagram sabe que eu acredito que tudo está interligado, ser mais sustentável com a natureza fatalmente fará você ser uma pessoa com escolhas mais saudáveis para a sua saúde.
Por mais que a gente tente melhorar a alimentação, o conceito de alimentação saudável ainda é muito limitada e gourmetizada, nós acreditamos que comendo mais barrinhas de cereal, iogurte natural, bolachinhas zero açúcar, estamos melhorando nossa alimentação, mas na verdade só estamos colocando um bando de coisas industrializadas para dentro do nosso corpo.
Outra coisa é sobre essa onda dos produtos naturais, que eu sou super adepta, mas precisamos entender que não é tudo para todas, e ainda mais quando decidimos viver sem um remédio, é preciso escutar e estudar o nosso corpo. Para mim, no final das contas, o que adianta é não usar produtos naturais ou sintéticos todos os dias, fazer yoga e meditar para diminuir a ansiedade, tirar o leite e os industrializados, mas tudo isso com muita responsabilidade de não deixar faltar todos os nutrientes necessários na minha alimentação.
Menos embalagens plásticas, mais cascas
Menos coisas prontas, mais conhecimento do seu alimento
Menos industrializados, mais natureza
Menos resultados rápidos, mais paciência
Menos remédios milagrosos, mais consciência