Por que temos medo da natureza.

Sempre me pergunto como nos afastamos tanto da natureza, o que fez com que a gente sentisse tamanha ameaça que nos fez criar muros e muros de distância de qualquer verde.

Hoje estou acordada a mais de uma hora e meia por causa de ventos fortes, resultado de um ciclone que passou no Sul do Brasil, e estou com muito medo. Para mim não é normal ficar acordada tanto tempo no meio da noite, sou daquelas que deita e dorme em 2 minutos sem problema algum, então você pode imaginar o nível de ansiedade para estar a tanto tempo me revirando na cama mesmo depois de ter tomado um banho de lavanda para acalmar.

Agora eu estou morando em uma barraca no meio de um bosque de pinheiros, ouvindo as rajadas de vento chegando tão forte que fazem as árvores chicotearem, os pássaros voarem, e eu rezar para que nada caia em cima da estrutura frágil que me cerca. Aqui dentro desse espaço de 1x2m que tantas vezes me fez sentir em um casulo protegido e aconchegante, agora me sinto pequena e indefesa.

Vista da minha barraca

Entendo o tamanho do medo dos nossos ancestrais, cercados de animais selvagens, de mudanças climáticas que eles não podiam explicar, sem tecnologia o suficiente para tratar muitas doenças e machucados. Pensando nisso, hoje pela primeira vez em muito tempo me pego com vontade de estar rodeada de concreto para me proteger de qualquer força externa.???

Mas quando me imagino nesse lugar na cidade, acabo lembrando que lá eu também tinha muito medo. Poderia ser assaltada em qualquer momento, cada chuva era sinônimo de enchente, andar de carro perigo de acidente, ir para o trabalho ameaça de estresse e competição exagerada, me olhar no espelho era ter a certeza de que eu nunca era boa o suficiente para os padrões que a sociedade “tradicional” coloca.

A verdade é que este mundo dá medo, existem muitas ameaças por aqui, sejam aquelas realmente reais ou sejam as que imaginamos, e construir um mundo sintético e frio ao nosso redor não fará que o nosso sangue pare de correr quente dentro de nós, nem que nossa cabeça deixe que fazer mil simulações para proteger a nossa vida. ??

Nós nunca fomos ensinados a lidar realmente com o medo, tentamos criar barreiras para manter os perigos longe de nós mas eles apenas se transformaram. No Ocidente somente agora estamos aprendendo a respirar e meditar, o que nos ajuda a ter maior controle dos nossos impulsos e reações, e mesmo assim ouço pouquíssimas vezes ser admitido que sim, a vida é perigosa de muitas maneiras.

E enquanto tentamos nos enganar com soluções mágicas, com produtos e mais cimento, vemos uma sociedade adoecida mentalmente por que nada acalma aquele aperto no peito e a incerteza do próximo segundo de vida. Nada que nos é oferecido sana esse vazio, e nos afastamos cada vez mais de uma das únicas coisas que realmente pode nos curar, a natureza.

Fomos criando tamanha aversão aos sentimentos negativos, que acabamos também nos distanciando da nossa essência selvagem, junto com as plantas, árvores e animais, a ponto de pensarmos que estar na mata é perigoso por que pode aparecer uma cobra ou uma aranha, e nos esquecendo que na cidade estamos em constante alerta e estresse por ser um ambiente que por qualquer motivo nossa vida pode ser tirada. Nos habituamos com o antinatural. Não é contra a cidade que falo, mas sim tento trazer a reflexão se esta aversão ao natural é realmente necessária.

O medo é inevitável, assim como a raiva em muitos momentos, a tristeza, a sensação de fome depois de muito tempo sem comer, e a sede depois de ficar sem beber. É inevitável também sorrir quando uma criança ri, sentir o coração pulsar quando amamos alguém, a alma vibrar quando conquistamos alguma coisa, o grito na garganta que quer sair quando estamos animados, e até aquele corpo mais tímido que balança ao som de uma boa música. Coisas inevitáveis.

Eu sigo aqui procurando respirar, escrevendo para usar esse tempo com algo que me acalme e rezando para que eu saia dessa ventania viva, tendo a certeza de que meu medo é maior do que o que está realmente acontecendo, mas sem saber exatamente como lidar com ele.

Termino esse texto com a certeza de que não quero viver para fugir daquilo que me ameaça, apesar de ser prudente preservar minha vida não há um lugar que posso fugir do que está dentro de mim. Quero viver me aproximando daquilo que me faz bem, e isso sim pode ser um autocuidado efetivo.

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Renata G. Ferreira
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Por um Recomeço

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